Informativo
Os aplicativos e o aumento da precarização no trabalho
Apesar da grande diversidade de aplicativos a
disposição do consumidor, esse é um mercado praticamente oligopolizado na
atualidade. A prova disso está no seu aparelho de celular onde, muito
provavelmente, os apps que você utiliza receberam investimentos da Google,
Amazon ou Microsoft.
Esse pequeno e forte grupo também está por trás do capital investido nos
aplicativos de prestação de serviços mais acessados no mundo, como Uber e
Airbnb. O alerta é do professor de cultura e mídia digital da The New School,
de Nova York, Trebor Scholz, autor de ‘Cooperativismo de Plataforma:
contestando a economia do compartilhamento corporativa’, que acaba de chegar ao
Brasil pelas editoras Autonomia Literária e Elefante e a Fundação Rosa
Luxemburgo.
Scholz participou, conectado de Nova York, da
coletiva realizada em São Paulo, no lançamento do seu livro para o português,
destacando que a expansão desse modelo de economia do compartilhamento (sharing
economics), ou economia sob demanda, ocorreu a partir de 2008, em meio à crise
financeira mundial, como uma opção promissora por dois motivos: “Essas
plataformas de intermediação provem grandes benefícios para você enquanto
usuário. São fáceis de usar, você não tem muito trabalho e pode, ao mesmo
tempo, consumir e ser um prestador, alguém que oferece esse tipo de serviço e
ganha algum dinheiro com essas plataformas”.
Mas existe um lado oculto desse modelo de
negócios, que ganhou o nome de Uberização do trabalho, como explicou ao GGN o
tradutor do livro, Rafael Zanatta, que também é pesquisador na área de
tecnologias digitais: “Uberização é um conceito usado para designar esse tipo
de economia, no qual você tem pares oferecendo um serviço ou um produto, uma
relação de troca, mas, no meio, você tem um intermediário extraindo valor
dessas partes e não estabelecendo uma relação de trabalho formal com elas”. Os
donos das plataformas detêm, em média, 25% a 30% do valor dos serviços
prestados, sem um contrato que assegure direitos trabalhistas.
Outros dois pontos negativos levantados por
Scholz é a transformação desses serviços em verdadeiras commodities e, ainda, a
invasão da privacidade em nível massivo dos usuários que, para baixar esses
apps, são obrigados a aceitar contratos que têm, como contrapartida, o acesso
dos seus dados pessoais. Por isso, o pesquisador chama de “ilegal” a
metodologia dessas plataformas que acabam tornando o Direito nulo: “Nenhuma
delas respeita relações pré-existentes dos setores onde prestam serviços”,
ressaltou.
Apesar do cenário que aponta para um horizonte
de menos direitos e garantias, Scholz traz no seu trabalho exemplos de
cooperativas de plataformas digitais que deram certo. Como a Open Group
Cooperativa, de Nova York, formada por trabalhadoras de limpeza e cuidado com
crianças, eliminando completamente o modelo de intermediação entre prestadores
de serviço e clientes. Além de maior retorno financeiro, as trabalhadoras têm
voz decisiva na empresa.
Scholz também destaca a experiência da Green
Táxi Cooperative, na cidade de Denver, capital do Colorado, Estados Unidos,
onde motoristas imigrantes formaram a empresa com o apoio do sindicato, para
fazer frente ao Uber, atendendo hoje 37% dos usuários locais. Outra experiência
é da Stocksy, uma cooperativa canadense de fotógrafos e artistas de imagem que
já faturou 7 bilhões de dólares e reune cerca de mil profissionais.
E POR QUE
ELAS DERAM CERTO?
Segundo o pesquisador, para a cooperativa dar
certo os empreendedores precisam estabelecer o valor correto dos serviços para
o mercado onde o trabalho será implementado. "A Stocksy é um bom exemplo,
pensado por pessoas que já tinham experiência naquele mercado, sabiam
exatamente qual era a demanda e qual a proposição de valor".
Ele também afirmou que, diferente das grandes
corporações, as cooperativas dispõem seus dados organizacionais na internet, de
forma aberta e democrática, salientando ainda que dificilmente as experiências
avançaram em precarização. Muito pelo contrário, o modelo dessas organizações é
mais transparente e democrático, e aumenta o poder de ganho dos trabalhadores
pela inexistência do intermediário.
Por fim, Trebor Scholz destacou que não
encontrou exemplos da cultura misógina entre as cooperativas, tipo de violência
"muito presente nas Startups do Vale do Silício, que colocam a mulher em
situação de submissão plena", concluiu.
O pesquisador da The New School reuniu ao todo
160 experiências de várias partes do mundo, e que podem ser acessadas pelo site
Plataform.coop, convidando os brasileiros a compartilharem exemplos, independente
da área de atuação.
“O diferencial é que existia um projeto na
Universidade do MIT tentando identificar experiências de cooperativas, e quando
eles identificam que essas mulheres estavam se organizando, eles ofereceram
programadores de graça. Então, tinha uma união ali de programadores, ativistas
e trabalhadores. Nas várias experiências que a gente mapeou, sempre tem essa
união: tem trabalhadores, tem o ativista e tem o programador. Acho que o que
falta no Brasil é juntar esses três grupos. Esses grupos estão muito isolados.
Se a gente tiver mais diálogo e fazer com que as pessoas conversem, a gente
pode tentar florescer esses mercados de cooperativa de plataforma aqui no
Brasil. É isso que está faltando”.
Zanatta explicou que o período áureo dos
aplicativos vendidos pelas grandes corporações começou em 2014 e está entrando
em declínio, isso porque as pessoas estão se dando conta que o retorno
financeiro prometido é ilusório.
"Esse despertar é tardio porque a pessoa
percebe isso depois de seis meses, um ano, um ano e meio trabalhando com as
plataformas. Então já vi vários motoristas se organizando com seus sindicatos.
Em João Pessoa tem um caso, por exemplo, de uma cooperativa que foi formada a
partir de um sindicato de motoristas, eles criaram o próprio aplicativo para
concorrer", contou.
Zanatta salientou, entretanto, que a reforma
trabalhista aprovada recentemente na Câmara dos Deputados, e em discussão no
Senado, facilitando as regras para a terceirização, irá trazer impactos
negativos para o setor cooperativista, mesmo que indiretamente.
"[A reforma] é um grande problema, porque
vamos ter grandes plataformas de intermediação operando no Brasil que não vão
ser cooperativas, fomentando um tipo de mercado que é hierarquizado, onde você
tem um player, uma empresa que é o intermediador". Por outro lado, assim
como a "uberização", implementada pelas grandes corporações, a
reforma poderá elevar ainda mais a resistência dos trabalhadores e,
consequentemente, incentivar a criação de cooperativistas.
A grande questão é como os pequenos grupos de
prestação de serviços locais vão conseguir fazer frente à eficiência ofertada
pelas grandes corporações, não só em termos de estrutura de serviço, mas também
em termos de divulgação. À essa pergunta Zanatta responde que a comunicação
entre trabalhadores e clientes locais será a saída, como o caso dos
trabalhadores motoristas de João Pessoa, que distribuíram panfletos pela cidade
mostrando a perda de receita que eles sofriam por trabalhar com aplicativos
como o Uber ou o 99.
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