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28/10/2025

SUL GLOBAL DEVE ESCAPAR DO ALINHAMENTO AUTOMÁTICO E DA DEPENDÊNCIA, DIZ LULA

Na Cúpula da Asean, presidente defendeu o multilateralismo e o combate à crise do clima, além de fazer um balanço da viagem durante coletiva de imprensa na Malásia.

Por Priscila Lobregatte

Ao discursar na sessão de abertura da Cúpula da Ásia do Leste (Asean), em Kuala Lumpur, na Malásia nessa segunda-feira (27), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que “alinhamentos automáticos e situações de dependência são armadilhas das quais o Sul global precisa escapar”. Ele também fez um balanço de sua viagem à região, iniciada no dia 22, durante entrevista coletiva.

No discurso, Lula agregou que “em um cenário de instabilidade, nossa proteção mais efetiva é expandir o leque de países com quem mantemos diálogo e fazemos negócios”.

Nesse sentido, ressaltou que a aproximação entre a Asean e Mercosul tem potencial para integrar as cadeias produtivas de duas regiões, com grande complementaridade econômica. 

Ao iniciar sua fala, o presidente disse: “não é novidade dizer que o eixo dinâmico do mundo se deslocou para a Ásia. Nove dos dez maiores portos marítimos do mundo estão na região, que abriga 60% da população mundial.  O princípio da centralidade da Asean, que o Brasil respeita e apoia, é fator de equilíbrio nas transformações que o mundo atravessa”.

Multipolaridade

Outro aspecto importante do discurso do presidente Lula foi a defesa do multilateralismo. “Somos países biodiversos, com culturas plurais, histórias entrelaçadas e desafios comuns. Partilhamos a convicção de que um mundo multipolar é mais propício à paz do que um planeta dividido por rivalidades estratégicas. Consideramos a cooperação um caminho mais promissor para a prosperidade do que a competição”, enfatizou.

Num recado aos recentes ataques dos Estados Unidos a embarcações no Mar do Caribe e no Pacífico, sob a desculpa do combate ao narcotráfico, o presidente afirmou: “Os mares que nos circundam não podem se tornar palco de violações do direito internacional”.

Da mesma forma, Lula abordou, pelo viés da soberania nacional, a questão da cobiça dos EUA sobre os minerais de terras raras, que têm na China e no Brasil alguns das principais fontes mundiais. “Os minerais estratégicos que possuímos não devem enriquecer outras nações às custas do nosso desenvolvimento”, sublinhou.

Ao falar sobre o Brics — que conta com países da Asean entre seus membros e parceiros —, o presidente brasileiro pontuou que o bloco “é um veículo para uma governança global mais representativa” e que “não nasceu para afrontar ninguém”.

Neste ano, acrescentou Lula, “alcançamos posições comuns em favor do tratamento multilateral da inteligência artificial, da ampliação do financiamento climático e da eliminação de doenças socialmente determinadas. Lutar pela reforma das instituições multilaterais não nos impede de construir soluções próprias”.

COP 30

Lula dedicou a parte final de seu discurso à COP 30, que acontece entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém (PA). “Quando os líderes mundiais se reunirem em Belém, não poderão negar os fatos. Mesmo com as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas, ainda caminhamos para um aumento de temperatura superior a dois graus. Não é hora de abandonar o Acordo de Paris. Sem ele, perderemos nossa bússola”, argumentou.

Ele lembrou que cada grau adicional na temperatura média global representará perdas significativas no PIB mundial. E isso, prosseguiu, “não se trata de um simples número. Trata-se de milhões de pessoas que serão empurradas para a fome e a pobreza”.

O presidente brasileiro informou que durante o evento, serão lançadas duas iniciativas ambientais importantes. A primeira é a declaração para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, com medidas para acelerar a transição para longe dos combustíveis fósseis. “A crescente produção de bioenergia no Sudeste Asiático torna a região um aliado natural nesse esforço”, disse.

A segunda é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (o TFFF), que vai beneficiar as nações da Bacia do Bornéu-Mekong, do Congo e da Amazônia. “Trata-se de um mecanismo inovador, baseado não em doações, mas em investimentos, que vai remunerar tanto os países que contribuem, quanto os que preservam suas florestas”, concluiu.

Balanço

Ao fazer um balanço de sua viagem à Indonésia e à Malásia em coletiva de imprensa antes de voltar ao Brasil, o presidente Lula a classificou como exitosa e destacou: “O presidente não faz negócio, ele abre portas. E a receptividade tem sido extraordinária”.

Para além da reunião ocorrida na Malásia entre Lula e Donald Trump, no domingo (26), o presidente brasileiro declarou que “há muita vontade de conhecer o Brasil, de conhecer a transição energética que o Brasil está pensando, essa coisa maravilhosa de um país que tem quase 90% da sua energia elétrica renovável, de um país que tem petróleo e, ao mesmo tempo, defende que vamos trabalhar para que a gente não precise mais usar combustível fóssil”.

Entre os destaques dos giros pela região, estão os memorandos de entendimento assinados entre o presidente e o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, nas áreas de semicondutores; ciência e tecnologia, inovação tecnológica; pesquisa espacial e agricultura sustentável, além de acordos entre instituições de formação diplomática e centros de pesquisa. Ainda, foram abertos seis novos mercados a produtos brasileiros.

Outro ponto importante foi a reunião envolvendo empresários dos dois países, quando foram firmados entendimentos sobre biotecnologia, cultivo de algas, inovação genética e desenvolvimento de sustentabilidade.

Também houve avanços nas relações com o Vietnã e com Singapura e, na Indonésia, primeira escala da viagem, foram firmados oito acordos e parcerias em temas como agricultura e pecuária, ciência e tecnologia e na área de energia e recursos minerais. Além da visita de Estado, Lula participou de um fórum com mais de 100 empresários, entre brasileiros e indonésios.

Em reconhecimento à sua trajetória política e atuação em defesa da inclusão social, do combate à fome e da cooperação internacional, Lula recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia e Desenvolvimento Internacional e Sul Global, concedido pela Universidade Federal da Malásia.

Fonte: Portal Vermelho, com agências

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