Informativo
EDITORIAL DO VERMELHO: UM PRESIDENTE CONTRA A IMPRENSA E A DEMOCRACIA
Os
novos ataques de Jair Bolsonaro a profissionais, veículos e empresas de
comunicação impõem, em definitivo, um dilema ético à grande mídia brasileira:
até quando tolerar um presidente que, a despeito da agenda econômica afinada
com os interesses empresariais, é uma ameaça crescente à liberdade de imprensa
e ao Estado Democrático de Direito?
Dirigindo-se covardemente a uma afiliada da Globo na região do
Vale do Paraíba (SP), Bolsonaro elevou o tom. “Cala a boca! Vocês são uns
canalhas – vocês fazem um jornalismo canalha, que não ajuda em nada. Vocês não
prestam”, esbravejou. “Você tinha que ter vergonha na cara por prestar um
serviço porco desse que você faz na Rede Globo.”
Não é de hoje que Bolsonaro agride a imprensa, recorrendo a
mentiras, ofensas, difamações e injúrias, como ocorreu, na segunda-feira (21),
com a jornalista Laurene Santos, da TV Vanguarda, em Guaratinguetá (SP). Seus
sete mandatos como deputado federal pelo Rio de Janeiro, entre 1991 e 2018,
foram marcados não apenas pela irrelevância parlamentar e pela escassez de
projetos. Nas poucas aparições no plenário da Câmara, disparou insultos e
falsidades contra diversas instituições – entre as quais, a imprensa.
A
partir dos anos 2000, ainda que hostil às emissoras em geral, Bolsonaro soube
se aproveitar dos espaços em programas de humor e talk shows para
propagar ódios e se firmar como referência de uma extrema-direita abertamente
racista, misógina e homofóbica.
Vale notar que, com tamanha promoção, a votação de Bolsonaro
cresceu a cada nova eleição à Câmara – de 88.945 votos, em 2002, chegou a
464.572, em 2014. Naturalmente, não foram os programas humorísticos que o
levaram à vitória na eleição presidencial de 2018. Mas, com tamanha promoção
gratuita, a TV ajudou a turbinar a imagem bolsonarista.
Como o norte-americano Donald Trump, eleito presidente dos
Estados Unidos em 2016, Bolsonaro usou a mídia como uma alavanca extraordinária
para sua projeção – ou para aquilo que se convém chamar, no marketing político,
de “posicionamento”. Realçado pela TV, multiplicado pelas redes, o bolsonarismo
se estruturou.
Ademais,
na campanha presidencial de 2018, a pretexto de evitar mais uma vitória da
esquerda, a grande mídia não escondeu a preferência – para dizer o mínimo –
pela candidatura conservadora. Não se tratava de um “candidato dos sonhos”, um
representante genuíno e domável. Era o nome possível!
Além de se mostrar cada vez mais competitivo na disputa,
Bolsonaro tinha como trunfo o economista Paulo Guedes. Para regozijo dos
grandes empresários da comunicação, pela primeira vez um presidenciável com
chances de vitória assumia, sem meias palavras, uma plataforma ultraliberal. A
grande mídia não escondeu a sedução pelo discurso de Guedes, a quem ainda era
prometida uma plena autonomia.
No entanto, o autoritarismo do outrora deputado e futuro
presidente estava às claras em plena campanha. Levantamento feito pela Folha
de S.Paulo, logo após o segundo turno, contabilizou 129 ataques de
Bolsonaro à imprensa ao longo de 2018. Segundo o jornal, foram “39 acusações de
falsidade e 38 denúncias de partidarismo dirigidas a veículos de comunicação e
jornalistas específicos, além de 49 mensagens genéricas” para “estimular o
descrédito na imprensa”.
No
primeiro turno, segundo a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo),
houve 137 agressões ou ameaças a jornalistas que cobriam a eleição. Já nas
horas que se seguiram ao anúncio da vitória de Bolsonaro, “ao menos nove
jornalistas foram intimidados ou agredidos fisicamente” por “apoiadores do
candidato eleito”.
Ainda mais empoderado após a chegada ao Planalto, Bolsonaro
dobrou a aposta. Já presidente, ele atacou profissionais e veículos de
comunicação, ameaçou censurar e perseguir parte da grande mídia, fez acusações
sem provas contra diversas empresas do setor e promoveu uma campanha
difamatória contra o jornalismo profissional. Segundo a Fenaj (Federação
Nacional dos Jornalistas), 2020 foi o ano mais violento para os jornalistas
brasileiros. O Relatório da Violência contra
Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, elaborado pela
entidade, lista 428 casos de ataques e violações.
“Esse crescimento está diretamente ligado ao bolsonarismo. Houve
um acréscimo não só de ataques gerais – mas de ataques por parte desse grupo
que agride como forma de controle da informação”, declarou a presidenta da
Fenaj, Maria José Braga. De acordo com ela, essas ações “ocorrem para
descredibilizar a imprensa para que parte da população continue se informando
nas bolhas bolsonaristas, lugares de propagação de informações falsas e ou
fraudulentas”.
É fato
que a cobertura ao governo Bolsonaro está mais crítica – e cabe dizer que há um
precedente histórico ao qual se pode recorrer. Há 57 anos, sob o pretexto de
combater uma suposta ameaça de ditadura comunista ou “república sindical” no
Brasil, a grande mídia foi uma das instituições que aderiram de pronto ao Golpe
de 64 e à subsequente ditadura militar (1964-1985). Mas, por diversos razões e
em diferentes momentos, essa mesma imprensa se descolou do regime – e hoje o
denuncia como um retrocesso.
O Estadão não se cansa
de lembrar que, em protesto, publicou versos dos Lusíadas,
de Luís de Camões, no lugar de suas mais de 1.100 matérias vetadas por “risco à
segurança nacional”. A Folha de S.Paulo, nos
estertores da ditadura, abraçou a campanha pela volta da democracia, vendeu a
imagem de “jornal das Diretas” e se tornou o diário mais lido do País.
No caso da Globo, foi em 2013 que, sob o impacto das “Jornadas
de Junho”, a empresa reconheceu ter errado no “apoio editorial” ao Golpe de 64,
bem como em outras “decisões editoriais que decorreram desse desacerto
original”. Na ocasião da autocrítica, as Organizações Globo afirmavam: “A
democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por
si mesma”.
Sejam quais forem os pretextos que levaram a imprensa a um
mea-culpa geral, é louvável que, 31 anos após o fim do regime militar, os
“jornalões” – como os chamavam Alberto Dines – condenem o mais longo ciclo
autoritário vivido do País no século 21. Não falta à grande mídia, pois, a
convicção histórica de que o esvaziamento da democracia ameaça jornalistas,
veículos e a própria liberdade de imprensa. É tempo de barrar Bolsonaro e o
autoritarismo. Que a imprensa brasileira aceite, o mais rápido possível, essa
nova missão!
Fonte:
Portal Vermelho
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