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Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante declaração à imprensa, na Sala de Coletiva. Rio de Janeiro - RJ. Foto: Ricardo Stuckert / PR Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante declaração à imprensa, na Sala de Coletiva. Rio de Janeiro - RJ. Foto: Ricardo Stuckert / PR
08/07/2025

LULA CONDENA AMEAÇA DE TRUMP AO BRICS: "NÃO QUEREMOS IMPERADOR"

O norte-americano tenta impedir aproximações com o bloco, ameaçando impor tarifas. O presidente brasileiro considera a atitude pouco responsável e nada séria.

Por Murilo da Silva

O presidente Lula rebateu, nessa segunda-feira (7), a ameaça de Donald Trump de retaliar com tarifas os países que aderirem às políticas “antiamericanas” do Brics, como classificou o presidente dos Estados Unidos.

Em coletiva de imprensa após o encerramento da Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro (RJ), Lula disse que nem deveria comentar, pois classifica a postura de Trump pouco responsável e nada séria. Além disso, ressaltou que os países do grupo, assim como o resto do mundo, não precisam de um “imperador” e têm o direito à reciprocidade nas medidas.

“Eu sinceramente nem acho que deveria comentar, porque eu não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente da república de um país do tamanho dos Estados Unidos ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. O mundo mudou: não queremos imperador. Nós somos países soberanos. Se ele achar que pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade. Sinceramente, tem outras coisas e outros fóruns para falar com outros países. As pessoas têm que aprender que respeito é bom. Respeito é muito bom. A gente gosta de dar e gosta de receber”, afirma Lula.

Ao ser questionado sobre a defesa que o mandatário norte-americano fez do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula disse que o Brasil “tem lei, tem regra e tem um dono chamado povo brasileiro, portanto, dê palpite nos assuntos do seu país e não do nosso”, rebate.

Sobre a repercussão do tema tarifário dentro da Cúpula, o presidente fez a indicação de que ninguém tocou no assunto: “Não demos nenhuma importância a isso.”

Transação em moedas locais

Quando questionado sobre o avanço no debate sobre transação entre os países do grupo nas suas próprias moedas, deixando o dólar de lado, Lula afirma que este é um caminho sem volta.

“O mundo precisa encontrar um jeito para que a nossa relação comercial não precise passar pelo dólar. Quando for com os Estados Unidos ela passa pelo dólar. Mas quando for com a Argentina, com a China, com a Índia, não precisa passar. Quando for com a Europa discute-se em Euro. […] E, obviamente, nós temos toda a responsabilidade de fazer isso com muito cuidado, com a participação dos Bancos Centrais. É uma coisa que não tem volta. Isso vai acontecendo aos poucos até que seja consolidado”, sublinha.

IOF

Também foi perguntado sobre a questão do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O presidente brasileiro classifica a atuação do Congresso como “totalmente anticonstitucional” ao barrar um decreto do Executivo, e citou exemplos de outros governos em que medidas similares não foram questionadas.

Apesar do embate, entende que é uma “divergência política própria da democracia” e que pretende resolver o tema ao buscar um consenso durante a semana.

 Brics e uma nova abordagem ao multilateralismo

Antes das perguntas dos jornalistas, Lula fez um balanço da reunião do Brics. De acordo com o presidente, o encontro foi um dos mais significativos, assim como o realizado no âmbito do G20, também no Rio de Janeiro, em novembro de 2024.

Em sua avaliação, o bloco oferece uma nova abordagem para o multilateralismo internacional: “Temos a convicção de que não queremos mais um mundo tutelado. Não queremos mais Guerra Fria ou o desrespeito à soberania. Não queremos mais guerra e, por isso, estamos discutindo profundamente a necessidade de mudanças estruturais, inclusive no Estatuto da ONU, para recriar algo com base nos acontecimentos atuais, e não nos de 1945. Aquele mundo ficou para trás. Os saudosistas do fascismo e do nazismo não estão no Brics. No grupo buscamos fortalecer o processo democrático, o multilateralismo, a paz, o desenvolvimento e a participação social.”

O líder brasileiro inclusive reforça o pedido de mudanças no Fundo Monetário Internacional (FMI) como forma de refletir o desejo por um banco de investimento que atenda às necessidades dos países mais pobres, sem levá-los à falência, como tem acontecido: “O modelo de austeridade faz com que as dívidas sejam impagáveis”, alerta.

“Guerra contra o Hamas e só matam inocentes, mulheres e crianças?”

Lula ainda destaca que, no marco dos 80 anos da Segunda Guerra Mundial, período após o qual os organismos internacionais foram criados, é preciso reforçar o multilateralismo e não o destruir, em um mundo novamente em convulsão.

“Estamos vivendo hoje, possivelmente, depois da Segunda Guerra Mundial, o maior período de conflito entre os países. É guerra esparramada para tudo quanto é lado. E o mais grave é que os países do Conselho de Segurança da ONU, que deveriam ser o paradigma para tentar evitar essas guerras, são eles os promotores”, critica.

Ao abordar todos os conflitos em curso, o presidente reiterou as críticas ao que acontece em Gaza: “Dizer que aquilo é uma guerra contra o Hamas e só matam inocentes, mulheres e crianças? E cadê a instituição multilateral para colocar um fim nisso? Não existe! A ONU deveria estar condenando, mas a ONU não pode condenar, porque ela está envolvida nisso. Quando eu digo a ONU, é porque tem países no Conselho de Segurança envolvidos nisso, excluindo a China, mas o restante está envolvido, tanto da Europa quanto os Estados Unidos”, explica Lula, ao indicar o motivo de não haver uma interlocução para uma proposta alternativa ao que temos, o que evidencia a necessidade de fortalecimento do grupo por este contexto.

“Brics não nasceu para afrontar ninguém”

Na fala, o presidente também defende mudanças na governança mundial para que represente de forma equitativa países de todas as regiões do mundo.

“O Brics, que não nasceu para afrontar ninguém, é um novo modo de fazer política. Uma coisa mais solidária. Em que o banco esteja muito mais preocupado em ajudar os países em desenvolvimento a se desenvolver. E que na questão ambiental a gente tenha consciência de que a questão do clima é muito séria”, menciona Lula ao rememorar os desastres no Rio Grande do Sul e o mais recente no Texas, nos Estados Unidos.

Nesse ponto, Lula acentua a força do grupo enquanto promotor de uma nova realidade: “É um modelo novo, uma abordagem nova, algo que trata com muito mais cuidado, não é uma coisa fechada, não é um clube de privilegiados, é um conjunto de países querendo criar um outro jeito de organizar o mundo, do ponto de vista econômico, do ponto de vista do desenvolvimento, do ponto de vista da relação humana.”

Ao finalizar a exposição sobre o encontro, ressaltou sua alegria porque “o Brics está se tornando campeão do mundo em políticas ambientais, de inteligência artificial, de desenvolvimento e envolvimento da sociedade no debate.”

Fonte: Portal Vermelho

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