Informativo
TRABALHADORES DOS ESTADOS UNIDOS SÃO MAL PAGOS E NÃO TÊM DIREITOS
A
baixa taxa de desemprego nos Estados Unidos tem frequentado as conversas com
quase o mesmo interesse despertado pelos resultados esportivos. Na casa dos
3,7% em setembro, é oficialmente a menor desde 1969 naquele país. E, como nos
comentários esportivos, o tema é cercado por chutes.
Ao
contrário do que pode parecer, o resultado não comprova o acerto da retórica
protecionista e xenófoba do governo Trump, tampouco é fruto somente da gestão
dele. E, principalmente, não é um bom exemplo, já que boa parte dos empregos
criados tem salários muito baixos e a imensa maioria não vem acompanhada de
direitos fundamentais como auxílio-saúde, descanso semanal remunerado e outros.
O
baixo desemprego anunciado por lá também se vale de uma forma de medição que
inclui até mesmo as pessoas que estão nas penitenciárias. Caso a população
carcerária não entrasse na conta dos empregados, a taxa de desemprego subiria
aproximadamente cinco pontos, conta o economista Marcelo Manzano, pesquisador
do CESIT/Unicamp e consultor da Fundação Perseu Abramo.
A
julgar pelas propostas e promessas do futuro governo brasileiro, a experiência
de empobrecimento maior de quem trabalha vai ser aplicada por aqui. O
presidente eleito já afirmou mais de uma vez que o trabalhador terá de escolher
se quer direitos ou se quer emprego, as duas coisas juntas seriam demais. Ele
também criticou os métodos do IBGE para medir emprego e desemprego e disse
querer mudá-los.
Nos
Estados Unidos, o salário médio anual gira em torno de US$ 33 mil dólares. Em
comparação, o custo anual de uma faculdade privada é de US$ 30 mil dólares por
ano. Essa amostra da ínfima diferença entre o ganho real e custo de vida
comprova a fragilidade da renda do trabalho e também ajuda a explicar o
endividamento dos jovens com crédito estudantil tomado em bancos, um fenômeno
que ocorre nos EUA. Segundo dados do Fed (banco central), quatro em cada 10
recém-formados estão pendurados nesse crédito, que neste ano ultrapassou US$
1,5 trilhão.
SINDICATO FAZ FALTA
“A
maioria dos empregos gerados são temporários ou de tempo parcial. Não vem com
quase nada além do baixo salário”, confirma Jana Silvermann, diretora para o
Brasil e Paraguai do Solidarity Center da AFL-CIO, maior central sindical dos
EUA. Segundo ela, grande parte está no setor de serviços não-especializados. Em
todo o setor privado estadunidense, 93% dos trabalhadores não têm proteção de
acordos coletivos de trabalho negociados por sindicatos, “quase sem direito
nenhum”, diz a dirigente. Outra experiência que o futuro governo pretende
aplicar por aqui, com sua sanha antissindical.
Com
escassa cobertura em serviços públicos, a situação do trabalho nos EUA piora.
Jana lembra, por exemplo, que uma das propostas da pré-campanha do socialista
Bernie Sanders à Presidência que mais sucesso fez entre o eleitorado jovem foi
a criação de cursos técnicos de dois anos de duração, inteiramente grátis, ou
melhor, subsidiados pelo Estado. Não foi adiante.
A
perda do vigor industrial dos EUA, setor que oferece os empregos mais bem
remunerados, não se reverteu, apesar de todas as promessas de Trump. “A
recuperação econômica americana se dá por bolhas. Há hoje duas bolhas, a dos
títulos públicos e a do mercado de ações, movidas pelo excesso de liquidez”, comenta
o economista Guilherme Mello, em referência à grande quantidade de dinheiro em
circulação movida a corte de impostos, baixa taxa de juros e com a ajuda da
máquina de imprimir dólares, que só eles têm.
CRISIS, WHAT CRISIS?
“Para
onde vai essa liquidez?”, pergunta Mello.”Vai para aplicações financeiras, para
títulos públicos, para o mercado de ações, o que vai gerando essa bolha”. Isso
quer dizer mais especulação, menos produção de bens reais. Para o economista,
outra crise semelhante à de 2008 chegará, mais cedo ou mais tarde. “A
combinação da desaceleração chinesa e do comércio internacional – porque há uma
guerra comercial em curso – e essas bolhas crescendo, haverá uma reversão, um
acerto de contas, vamos dizer assim”, completa.
Enquanto
isso, o emprego industrial segue lento, sem se importar com as promessas de
campanha de Trump. Segundo dados apurados pela AFL-CIO, desde 1994 sumiram 600
mil empregos no setor. O atual governo comemora a criação de 180 mil desde
2016, escondendo o déficit. Detalhe: 1994 é o ano que marcou a assinatura do
Nafta, acordo de livre comércio entre EUA, Canadá e México que gerou imensa
exportação de empregos. De má qualidade, especialmente para o México.
Por
fim, a baixa taxa de empregos, inegável embora cercada de contradições, não
pode ser creditada exclusivamente a Trump. O economista Fausto Augusto Jr., do
Dieese, lembra que ações de Barack Obama para enfrentar a crise de 2008 estão
surtindo efeito, a exemplo da intervenção estatal para evitar a quebra de
conglomerados como a GM, e a adoção de uma taxa básica de juros negativa por
longo período.
Fonte:
Isaías Dalle, da Fundação Perseu Abramo
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