Informativo
ESTELIONATO ELEITORAL E O ENGODO DA RETOMADA DA ECONOMIA
Por Emilio Chernavsky
Há meses o governo
empurra com a barriga a decisão sobre se e como substituirá o auxílio
emergencial, hoje pago a dezenas de milhões de trabalhadores no país, quando
ele se encerrar no fim do ano como prevê a lei em vigor. Nesse período vários
balões de ensaio com propostas foram lançados. Em todos, os benefícios
alcançariam no máximo a metade do valor do auxílio emergencial original e muito
menos pessoas seriam atendidas. Ainda, eles seriam custeados com recursos hoje
usados para pagar outros benefícios, que acabariam, ou precatórios, que seriam
adiados, ou, ainda, oriundos do Fundeb ou de um novo tributo.
Diante
das reações negativas e da proximidade das eleições municipais, o governo nada
anunciou e, na segunda-feira (16), seu líder na Câmara, dep. Ricardo Barros
(PP-PR), confirmou que a decisão somente será tomada após o segundo turno das
eleições [1]. Em claro estelionato eleitoral para beneficiar seus apoiadores, o
governo, ao manter o assunto em evidência sem, contudo, apresentar nenhuma
proposta concreta, permite que a maioria dos atuais beneficiários acredite que
continuará a receber um benefício e, ao mesmo tempo, evita que grupos possam se
ver como prejudicados.
Este
estelionato acompanha outro engodo, o da retomada iminente da economia, que o
governo promete desde o início do mandato. E que é ainda um engodo a despeito
dos indicadores recentes positivos, porque a retomada que eles sugerem, longe
de consistente como pretende o governo, é precária, e assentada basicamente na
transferência direta de volumes absolutamente inéditos de recursos financeiros,
em especial por meio do auxílio emergencial.
O auxílio, recebido por uma população em sua maioria de
baixa renda que consome praticamente tudo o que ganha, possui impacto quase
imediato sobre o consumo, como mostra o gráfico abaixo da evolução das vendas
no varejo. Nele, vemos a sensível queda das vendas em abril provocada pela
queda súbita da renda provocada pelas medidas de combate à pandemia. Mas vemos
também que essas vendas passaram a crescer já em maio, na esteira do pagamento
do auxílio emergencial a partir da segunda quinzena do mês anterior, que
alcançou dezenas de milhões de pessoas em poucas semanas.
Isso permitiu que as
famílias retomassem, a despeito do forte aumento dos preços [2], parte dos
gastos com alimentação, como mostram as vendas dos hiper e supermercados. Mais
notável, entretanto, é que permitiu a forte expansão das vendas de material de
construção e de móveis e eletrodomésticos, além de tecidos, vestuário e
calçados (não mostrados no gráfico).
Com
o auxílio emergencial, parte da população não só viu sua renda crescer acima do
que era antes da pandemia, como assumir a forma, totalmente inédita para
muitos, de um fluxo constante, previsível e concentrado no tempo. Este, em boa
parte, se destinou justamente à compra desses bens cuja demanda, há anos
represada, disparou.
A expansão das vendas
levou ao crescimento da produção nos respectivos ramos industriais, gerando
números positivos em outros indicadores de atividade e, inclusive, produzindo
situações localizadas de falta de insumos, interpretadas por alguns como sinal
de retomada. Na verdade, elas refletem anos de baixo investimento na
indústria e o fechamento de linhas e unidades produtivas ao longo de suas
cadeias. De todos os modos, tais situações, apenas concebíveis com a
demanda aquecida, dificilmente se repetirão nos próximos meses.
Isto
porque já em setembro as vendas no varejo pararam de crescer, o que não
surpreende dado que nesse mês o valor do auxílio caiu pela metade. Até o final
de ano, a manutenção do benefício, mesmo com valor menor, e a tênue recuperação
no mercado de trabalho formal, devem garantir a sustentação das vendas ou, ao
menos, impedir quedas maiores. No entanto, se em 2021 o auxílio não for
prorrogado ou substituído por outro programa de transferências de grande
alcance, dificilmente a renda das famílias e, assim, o volume de vendas
registrado nos últimos meses, se manterão. Com menores vendas, a produção
permanecerá estagnada ou cairá e a situação do mercado de trabalho continuará
angustiante.
Sem
nenhum anúncio oficial sobre o futuro do auxílio emergencial, o país se
aproxima do segundo turno das eleições no dia 29. Se a maioria dos
beneficiários seguir até lá acreditando que continuará a receber um benefício,
o estelionato eleitoral terá alcançado o objetivo pretendido pelo governo. Já o
engodo da recuperação iminente da economia, embora cada vez mais questionado,
continuará a ser alimentado, dado seu papel fundamental para justificar a
continuidade da agenda de reformas do governo, que promete a trilha do
desenvolvimento virtuoso começando sempre depois da próxima reforma.
[2] Em
maio, a inflação (INPC) da alimentação no domicílio acumulada no ano era de
4,53%, contra um índice geral de apenas 0,06%.
Fonte: Brasil Debate
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